A história de sete irmãos a você vou contar. O caçula era chamado de Pequeno
Polegar. Tão esperto e inteligente, com ele ninguém podia, até mesmo a força
bruta como vencer ele sabia.
Era uma vez um lenhador que tinha sete filhos homens. O maior tinha doze
anos, o caçula seis e se chamava Pequeno Polegar. Ele era muito pequenino.
Quando nasceu tinha o tamanho de um dedo polegar, por isso lhe deram esse
nome. O Pequeno Polegar não falava muito, mas em compensação sua cabecinha
não parava de pensar.
Embora fosse o menorzinho. ele era o mais esperto dos irmãos. O lenhador era
muito pobre e não tinha meio de sustentar os sete filhos. Por isso combinou
com a mulher levá-los para a floresta e deixá-los lá, pois diziam que havia
um gênio que cuidava das crianças que se perdiam no mato.
O Pequeno Polegar, escondido debaixo do banco, ouviu a conversa. Como
gostava muito dos pais, não queria ficar longe deles. Quando todos dormiam,
saiu bem quietinho e foi ao riacho que passava perto da casa e recolheu uma
porção de pedrinhas brancas. Na manhã seguinte toda a família do lenhador
saiu para cortar lenha no mato. Enquanto andava, o Pequeno Polegar foi
deixando cair as pedrinhas brancas, para marcar o caminho.
Os irmãos do Pequeno Polegar trabalhavam animados cortando lenha. Enquanto
isso, o lenhador e a mulher, se afastaram silenciosamente sem que os filhos
percebessem. Em seguida voltaram para casa por um caminho desconhecido das
crianças. Horas depois, os irmãos deram pela falta dos pais.
- Eles devem voltar logo, - disse um dos meninos. - Decerto foram recolher
lenha mais adiante.
A tardinha, como os pais não apareceram, os meninos ficaram muito
assustados:
- Que faremos sozinhos aqui no mato?
- Não tenham medo - disse o Pequeno Polegar. - Venham comigo. Eu os levarei
de volta para casa.
- Você? Ora, o menorzinho de todos... Como vai conseguir isso? Nenhum de nós
conhece o caminho de volta!
- Não se preocupem. Vocês vão ver como chegaremos em casa.
Seguindo as pedrinhas brancas, o Pequeno Polegar conduziu os irmãos para
casa, sem errar o caminho.
Quando o lenhador e a mulher viram os meninos de volta, decidiram levá-los
novamente ao mato no dia seguinte. O Pequeno Polegar, também desta vez,
ouviu a conversa dos pais. Tratou de ir recolher pedrinhas brancas no
riacho... mas não pode sair de casa. A porta estava fechada com um cadeado
tão grande e pesado, que ele não conseguiu abrir.
Assim, naquela tarde, os sete meninos não conseguiram encontrar o caminho de
volta para casa e se perderam no mato.
Please .
O pior foi que começou a chover, uma chuva forte que logo deixou as crianças
molhadinhas.
O Pequeno Polegar subiu numa árvore para ver se avistava a casa dos pais, à
luz dos relâmpagos.
Depois de muito olhar em todas as direções, o Pequeno Polegar viu, ao longe,
uma enorme casa.
- Parece um castelo - disse ele aos irmãos. - É, escuro e feio, mas . . .
não vejo nenhum outro abrigo!
O menino desceu da árvore e os sete irmãos se dirigiram ao casarão que ele
avistara lá de cima.
Naquela casa morava um gigante feiticeiro. Quando os irmãos bateram à
porta, a mulher dele veio abrir.
- Oh! Sete meninos! Deus meu, aqui mora um gigante feiticeiro! Se ele vê
vocês, come todos num só bocado! Vão embora, depressa!
- Mas estamos com frio... Está chovendo tanto! - suplicou o Pequeno Polegar.
A mulher do feiticeiro ficou com pena dos meninos e mandou-os entrar.
- Venham secar as roupas aqui perto do fogo.
Meu marido não está em casa e talvez demore um pouco para voltar.
Os meninos agradeceram e entraram. Mas nem tinham ainda acabado de secar as
roupas e o feiticeiro bateu à porta:
"Quatro batidas acabo de dar, estou com fome e todo molhado.
Abre mulher, quero me enxugar e um carneiro inteiro comer assado."
Mais que depressa, a mulher escondeu as crianças embaixo das camas.
- Fiquem quietinhos, não façam barulho, - recomendou ela.
O feiticeiro entrou, e. . .
Depois do jantar, o gigante ordenou que a mulher vestisse um gorro em cada
menino e pusesse todos na cama para dormirem.
- Mas, onde? - perguntou a mulher. - Não temos quarto desocupado!
- Ora, ponha-os no quarto de minhas queridas filhas - respondeu ele.
O gigante feiticeiro tinha sete filhas ainda pequenas. Não eram bonitas.
Todas dentuças, como o pai. Mas justamente por serem parecidas com ele, o
gigante as achava lindas e fazia questão de que se vestissem muito bem.
Queria que as filhas parecessem princesas, por isso elas usavam coroas na
cabeça. Não as tiravam nem para dormir!
O Pequeno Polegar, muito esperto, prestou atenção às coroinhas e ficou
pensando no assunto. Quando todos estavam dormindo, ele levantou bem
quietinho e trocou as coroas das meninas pelos gorros de seus irmãos.
- Em feiticeiro não se pode confiar. - pensava ele. - Finge de bom, mas...
As suspeitas do Pequeno Polegar eram justas. Quando bateu meia noite, o
gigante entrou no quarto. Pretendia degolar os meninos para comê-los no dia
seguinte. Tocou com as mãos a cabeça deles, sentiu as coroas e pensou que
fossem suas filhas. Passou para outra cama, sentiu os gorros, mas, para
certificar-se, passou a mão sobre a boca das meninas e ...
- Ora, estas são minhas lindas filhas dentuças! - gritou ele, já zangado e
voltou-se para a cama dos meninos: - Vocês fizeram uma troca, seus
malandros! Mas não me escapam!
Os meninos já tinham acordado com o barulho. Mais que depressa saltaram da
cama e saíram correndo.
Como os meninos eram muitos, o gigante se atrapalhou e antes que pudesse
pegá-los, todos já tinham fugido. O gigante feiticeiro correu atrás deles,
mas os meninos eram muito espertos e ele sempre os perdia de vista, porque
era noite e estava escuro. Cansado o gigante acabou dormindo ali mesmo no
campo. Os sete meninos aproveitaram a oportunidade: pularam o muro de uma
casa velha e se esconderam lá dentro.
O gigante estava com sono, porque naquela noite não tinha dormido. Quando
acordou, não viu nenhum sinal dos meninos. Ficou furioso e praguejou:
Maldito sono, que me derruba quando mais preciso estar acordado! Aqueles
magricelas sumiram! Mas não há de ser nada: volto para casa, calço minhas
botas de sete léguas e percorro toda a região. Eles não poderão escapar!
O gigante foi para casa e calçou suas botas de sete léguas.
Depois saiu furioso por ter perdido a pista dos meninos. Corria subindo
montanhas e atravessando rios com a maior rapidez. Com aquelas botas
mágicas, a cada passo que dava, andava sete léguas! O gigante percorreu
todos os campos, vales e montanhas do lugar.
Olhava em todos os cantos, atras de cada árvore, de cada pedra, até debaixo
da ponte ele procurou os meninos.
Mas não conseguiu encontrá-los, porque dentro das casas, que não eram dele,
o gigante não podia entrar. Ele correu durante várias horas, até que não
aguentou mais. Exausto, caiu no chão, bem perto da casa onde os sete meninos
estavam escondidos. Daí a pouco o gigante dormiu tão profundamente, que
roncou alto. O Pequeno Polegar ouviu e devagarinho, bem quietinho, saiu do
esconderijo e aproximou-se dele.
O Pequeno Polegar, calçando as botas de sete léguas, com dois passos chegou
à casa do gigante. Bateu à porta e a mulher veio abrir.
- Depressa! - disse ele. - Seu marido foi aprisionado por um bando de
malfeitores. Eles querem ouro e pedras preciosas para o resgate. O gigante
mandou-me buscar o tesouro que está escondido aqui. Por isso deu-me as botas
dele, está vendo? Se eu não levar o tesouro bem depressa, os malfeitores o
matarão.
Vendo que o menino estava mesmo com as botas de sete léguas, a mulher
acreditou e lhe deu o tesouro dentro de uma sacola.
Pra casa ele vai, de botas sete léguas. Salta e não cai levando os irmãos.
Pelos campos ele vai, por cidades a passar, corre e não cai nosso Pequeno
Polegar.
Quando o Pequeno Polegar e seus irmãos chegaram em casa levando toda aquela
riqueza, seus pais o receberam com grande alegria.
- O gênio da floresta devolveu nossos filhos com uma fortuna! Que bom! Agora
vamos viver sempre juntos e muito felizes.
"Graças à esperteza do Pequeno Polegar, foi vencida a
malvadeza e voltaram para o lar."
"Com o tesouro trazido vivem agora em paz. Polegar muito
sabido continua um bom rapaz."
Charles Perrault
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